sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Corpos que Falam



Café Müller - Pina Bausch (1978)




OS DEVANEIOS DO CORPO


Marco Túlio de Urzêda Freitas



Não sei por quê, mas ... toda vez que assisto o espetáculo de dança Café Müller, da coreógrafa alemã Pina Bausch, me emociono muito. Há quem diga: "Não sei como é possível alguém se emocionar com essa coisa estranha ... duas mulheres horríveis dançando de olhos fechados e um homem com cara de nada afastando cadeiras de cafeteria em cima de um palco". No entanto, acho que é exatamente essa simplicidade, essa estranheza, essa "falta de significado" que me desconcerta. São corpos indecisos que se movimentam liricamente; corpos que parecem buscar na loucura e no sofrimento uma espécie de acolhimento, de presença, de libertação. Essas mulheres fora dos padrões de beleza dançando de olhos fechados, bem como a figura desse homem triste que as auxilia retirando de seu caminho as dezenas de cadeiras espalhadas pelo palco me levam a refletir sobre as seguintes questões: O que significa ser um corpo masculino/homem? O que significa ser um corpo feminino/uma mulher? O que significa ser um corpo socioculturalmente construído? Ao ler a biografia de Bausch, vejo que um dos principais objetivos de seu trabalho era de fato discutir o papel do sexo e do gênero em uma sociedade marcada pela dicotomização e adestramento dos corpos. Como reagimos a tudo isso? O que podemos fazer para nos libertar dessas amarras sociais? Essas são algumas das perguntas que sempre me faço após assistir Café Müller. Tudo parece muito próximo de mim, de meus próprios devaneios. Talvez por isso me sinta tão ... emocionado.



ALGUMAS FOTOS DE PINA BAUSCH
NO ESPETÁCULO CAFÉ MÜLLER













2 comentários:

  1. "orpos que parecem buscar na loucura e no sofrimento uma espécie de acolhimento, de presença, de libertação"

    esses somos nós.

    quero ver o espetáculo.

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  2. Que absurdo alguém se emocionar com essa merda, assim como é um absurdo admirar uma porcaria de livro com o qual gasta-se horas e mais horas para ler e no fim das contas não te ensina a ficar rico nem a fazer mais sexo; ou assistir um filme que não tem "porrada" nem sangue ou explosões; gostar de mulher máscula, de homem afeminado; gostar de acordar tarde, ficar sem fazer nada, fazer o que quiser é pecado laboral e espiritual, dançar a esmo é antissocial e feio, incerto, equivocado.
    Gostar disto tudo pode não ser socialmente aceito, porém é extremamente enriquecedor para a alma e para o corpo saber e poder tomar suas próprias decisões.

    Lute pelo que vc pensa, antes que nos tornemos todos iguais.

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