segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Entre o Sorriso e a Lágrima



O TAL HOMEM VESTIDO DE PALHAÇO

Marco Túlio de Urzêda Freitas

Naquele dia, teve uma surpresa. De mãos dadas com a mãe, percebeu que o tempo não estava mais tão alegre como quando chegaram à casa da felicidade. Olhou para o céu e viu que dezenas de nuvens de prata se aproximavam. Algo de mistério e revelação. No mesmo instante, notou a presença de alguém que os observava de longe. Era um homem ... um homem vestido de palhaço. Mas um palhaço diferente dos outros. Parecia carregar uma cruz maior do que o mundo nas costas. Em seus olhos, via-se apenas um brilho de dor e sofrimento. Nada mais lhe restava. Nenhuma lembrança. Nenhum sinal de prazer ou de alegria.

O menino, então, parou de frente a uma árvore sem vida, soltou-se abruptamente das mãos da mãe e correu para se encontrar com o tal homem vestido de palhaço. Ao chegar, abraçou suas pernas como se já fossem velhos amigos. O homem, por sua vez, colocou-se de joelhos e, no mais profundo silêncio, tocou as bochechas do pequenino com ternura. Um tímido sorriso e uma singela gota de tristeza nos olhos. Começou a chorar. Mas nada de muito clamor. Apenas algumas poucas lágrimas derramadas liricamente sobre as marcas de um rosto em processo de desconstrução. Um choro contido e, ao mesmo tempo, libertador. Algo estranho, mas profundamente verdadeiro.

A princípio, como já era de se esperar, o menino não entendeu o que estava acontecendo. E sabe-se lá por qual motivo, não quis fazer nenhuma pergunta. Preferiu continuar calado. Olhava para o homem como se através de sua dor ele pudesse viver intensamente os conflitos e as contradições da vida. "Um palhaço triste?" Naquele dia, longe das mãos da mãe, percebeu que antes de ser palhaço, aquele palhaço era um homem. E cresceu acreditando que todos/as somos a mistura da tristeza com a felicidade. Um pouco de sorriso e um pouco de lágrima. Sempre ... uma espécie de entre-lugar.


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