quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Identidade e Personalidade

The Scream - O Grito (1893) - Edvard Munch


VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ?


Marco Túlio de Urzêda Freitas


Eu descobri que tenho medo das pessoas, inclusive das mais próximas. Todos/as são muito estranhos/as e ... complicados/as. Imprevisíveis, eu diria. No entanto, o que mais me apavora é saber que também tenho medo de mim, do que sou capaz de fazer para me sentir "melhor" e ... "mais feliz". Às vezes, nem me reconheço. Sei lá, fico naquela de pensar que poderia ser "menos puritano" e mais disposto a viver a vida sem grandes medos e receios, mas ... isso é muito difícil! Definitivamente, não sou assim.

Sabe que até já tentei usar máscaras para não sofrer tanto e não ser tão diferente das outras pessoas? Uma súbita vontade de ser igual a todos/as! De repente, me vi fazendo coisas que não eram minhas ... coisas que me deixavam desconfortável. Não estou querendo dizer que somos uma coisa só, mesmo porque sempre defendi a existência de uma fluidez que opera na construção de nossas identidades. Em outras palavras, apesar de nossas peculiaridades éticas e comportamentais, tenho plena consciência de que, como seres humanos, estamos sempre sujeitos à descontrução do que acreditamos ser nosso. Mas, enfim ... a questão é que não adianta forçar a barra. Tudo deve acontecer o mais naturalmente possível. Sem pressão.

Antigamente, eu me recusava a acreditar no amor. No fundo, eu acreditava, mas não queria dar o braço a torcer. Sempre recorria às palavras de Augusto dos Anjos, Nelson Rodrigues, Virginia Woolf, Clarice Lispector e Hilda Hilst para fundamentar minhas ideias pessimistas em relação à vida. Pois bem, após conversar muito com amigos/as que se diziam perdidamente apaixonados/as, decidi não apenas assumir que acreditava no amor, mas também que tinha vontade de viver essa experiência de "renovação" e "plenitude". Comecei a deixar meus livros de lado, a dizer "não" para o trabalho ... tudo com o propósito de amar e de ser amado. Lugares, baladas, conversas. Músicas, bebidas, olhares. Nada feito. Ninguém. Apenas uma descoberta: não sou assim e não preciso desse comportamento falso para ser feliz!

Quem me conhece sabe que desde criança tento fazer de tudo para me sentir aceito. Mas essa palhaçada chegou ao fim! Sabe por quê? Porque me dei conta de que estava me transformando em outra pessoa, com atitudes e pensamentos artificiais. Entretanto, isso não quer dizer que eu condene o que os outros fazem para se divertir ou para se sentirem completamente realizados ... não é isso! O fato é que minha felicidade não depende de festas, bebidas e pegações. Se isso é certo ou errado, não sei. Só sei que, mesmo tendo feito de tudo para ser "diferente", permaneço fora do grupo de pessoas que já viveram "um grande amor", talvez por falta de autenticidade ou coragem de olhar minha própria vida nos olhos. Vai saber, não é mesmo?!

Como resultado de toda essa história, retomei minhas atividades. Leio, escrevo e trabalho. Converso. Ouço. Observo as coisas que acontecem ao meu redor para retirar delas alguma experiência que ainda não tenha vivido. Gosto disso e não me sinto menor ou menos experiente por analisar conflitos que não são meus. Ao contrário, sinto que aprendo muito com eles. Aprendo a ver que a fantasia só existe mesmo nos contos de fadas. No que se refere ao amor ... talvez um dia possa conhecê-lo, mas não da forma como descrevi anteriormente. Comigo, prefiro que as coisas sejam mais tímidas e um tanto ... "anormais". Eita mundo estranho! Pessoas e sentimentos em descontrole. Tudo me causa pavor. Por isso, grito ... de desespero.


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