O TAL HOMEM VESTIDO DE PALHAÇO
Marco Túlio de Urzêda Freitas
O menino, então, parou de frente a uma árvore sem vida, soltou-se abruptamente das mãos da mãe e correu para se encontrar com o tal homem vestido de palhaço. Ao chegar, abraçou suas pernas como se já fossem velhos amigos. O homem, por sua vez, colocou-se de joelhos e, no mais profundo silêncio, tocou as bochechas do pequenino com ternura. Um tímido sorriso e uma singela gota de tristeza nos olhos. Começou a chorar. Mas nada de muito clamor. Apenas algumas poucas lágrimas derramadas liricamente sobre as marcas de um rosto em processo de desconstrução. Um choro contido e, ao mesmo tempo, libertador. Algo estranho, mas profundamente verdadeiro.
A princípio, como já era de se esperar, o menino não entendeu o que estava acontecendo. E sabe-se lá por qual motivo, não quis fazer nenhuma pergunta. Preferiu continuar calado. Olhava para o homem como se através de sua dor ele pudesse viver intensamente os conflitos e as contradições da vida. "Um palhaço triste?" Naquele dia, longe das mãos da mãe, percebeu que antes de ser palhaço, aquele palhaço era um homem. E cresceu acreditando que todos/as somos a mistura da tristeza com a felicidade. Um pouco de sorriso e um pouco de lágrima. Sempre ... uma espécie de entre-lugar.
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